Conforme prometido no post anterior, vou contar a novela da ida para Takayama e Shirakawa-Go, uma por vez.
O primeiro destino foi Takayama. Descobrimos dias antes que o Festival de Primavera – Takayama Matsuri – , um dos mais tradicionais do Japão, é realizado no final de semana do dia 14/04.
Partindo de Kanazawa, o mais fácil seria tomar um ônibus até lá, hospedar-se e seguir (ou voltar só no dia seguinte). Como obviamente não haviam mais hotéis disponíveis na cidade, isso deixou de ser uma opção.
A passagem de ônibus também era outro problema. Para o 1º dia só tinha passagem de volta. Para o 2º dia, só passagem de ida. Não precisa ser um mestre da logística pra ver que não tinha como dar certo..hehe.
Quebrando a cabeça, conseguimos encaixar um roteiro de trem. Partindo bem cedinho (mas bem cedinho mesmo) de Kanazawa, fomos até Toyama com um trem-bala. Lá, pegamos um trem local que subia as montanhas, sem nem uma letra sinalizada em inglês. Na cara e na coragem, seguimos, imaginando estar indo pro lugar certo, junto com alguns turistas europeus que estavam na mesma situação. O trem menor e mais antigo, passa devagarinho por alguns vales e vilarejos espetaculares nas montanhas. Valeu cada segundo da viagem.
Depois de mais de 2 horas no trem, chegamos ao destino, no meio do Takayama Matsuri.
O festival consiste no desfile de carros alegóricos (yatai) feitos de madeira ou ferro esculpido, laqueados e pintados, com enfeites em ouro. São tesouros de centenas de anos, puxados pelas ruas da cidade. Esses carros são patrimônio cultural do Japão e nesses dias ficam expostos nas ruas e praças até que comece a procissão.
Conversamos um pouco com alguns dos japoneses que entendiam inglês e estavam cuidando dos carros, sempre cercados por turistas e pela TV local que fazia a cobertura do evento, mas dispostos a tirar algumas fotos.
No desfile, os bonecos karakuri ningyo, uma espécie de marionete complexa, controlada por várias pessoas, vai sobre os carros, gesticulando e falando. Como é tudo em japonês, não faço ideia do que os bonecos disseram… mas provavelmente foi algo inspirador hehehe.
Passam japoneses orgulhosos de todas as idades e com várias roupas coloridas e os mais diversos instrumentos seguindo os carros. Bem legal e cênico.
Ficamos mais um pouco por lá e saímos pela cidade pra comprar umas lembrancinhas, girar pelas ruas repletas de cerejeiras (que estavam no auge da floração, em função do clima mais frio da cidade) e comer algum lanche (uma variedade enorme de comidas típicas preenchiam uma rua inteira).
Então fomos para a estação, pra garantir lugar no trem da volta, lá pelas 4h da tarde (o penúltimo trem do dia). Trem lotadaço descendo as montanhas (tivemos que ir em pé, já não tinha mais lugar pra sentar), e quase chegando ao destino, começou a ventar…mas ventar muuuuito. Como são várias pontes sobre os vales, não seria seguro cruzá-las.
Isso fez com que o trem ficasse parado, por mais de 3h, nos arredores de Toyama. Nessas alturas já sentados no chão, no corredor do trem, ficamos por um tempão sem entender nada, porque o trem estava repleto de estrangeiros que não falavam japonês, e japoneses que só falavam seu próprio idioma. Toda a comunicação do trem era em japonês. Um casal de Hong Kong arranhava o básico de japonês e conseguiu traduzir pra galera o que estava acontecendo depois de um tempo.
Resultado: depois de 3h sem a previsão de diminuição da intensidade do ventos, a Companhia Ferroviária teve que mandar táxis pra buscar os passageiros, e nos deixou na estação central de Toyama, já tarde da noite, para que pudéssemos seguir finalmente até Kanazawa. O único trem que sairia de Takayama após o que tomamos foi cancelado (ou seja, estaríamos sem transporte e hospedagem caso não tivéssemos tomado exatamente esse trem).
Muitas pessoas que estavam com a gente durante toda essa aventura, também seguiu pra Kanazawa. E claro que aproveitamos para reunir a galera para uma foto, já éramos amigos, a essa altura, depois de tantas horas passando medo juntos quando o trem sacudia a cada rajada de vento. Conhecemos da Alemanha (Lars), Espanha (Cristina) e Inglaterra (Hillary e Chris) – devidamente retratados em foto abaixo. Das histórias e encontros que só as viagens nos proporcionam…
Chegamos ao hotel quase à meia-noite, debaixo de chuva, com mais uma história pra contar, para descansar e encarar a próxima jornada, até Shirakawa-go na manhã seguinte…. a saga que contaremos no próximo post.
Lembrando que valeu cada segundo!