Monte Koya: como foi se hospedar em um Templo Budista – 2018
Se você perguntar, da viagem ao Japão, o que dá mais saudades? Vou responder prontamente que é da experiência no Monte Koya, sem sombra de dúvidas. E dessa experiência vou contar todos os detalhes porque foi um dos maiores aprendizados e com lições que levamos para a vida.
Monte Koya (Koya-san) é uma montanha sagrada para o budismo japonês, localizada em Wakayama, ao sul de Osaka. É um famoso local de peregrinação. Um dos aspectos mais atraentes dessa localidade, além das rotas de caminhada, é pernoitar em um dos 52 tempos budistas – dos 117 que seguem em funcionamento.
Para vocês terem uma ideia da importância do Monte Koya, a localidade foi declarada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2014.
O vilarejo de Monte Koya foi fundado no ano de 816 pelo monge budista Kukai (também conhecido como Kobo Daishi), para que os monges pudessem meditar longe das distrações da então capital, Kyoto.
O lema do lugar é : “encontre o luxo na simplicidade!”, e a partir disso dá pra entender que sem chegar lá já tínhamos aprendido alguma coisa.
Para chegar ao Monte Koya tem que ter muita disposição pois são vários trajetos, com diferentes meios de transporte. E com a gente a “indiada” é sempre maior, explico…kkkk
No dia anterior estávamos em Shirakawa-go. De Shirakawa pegamos um trem de volta a Kanazawa onde havíamos deixado nossa bagagem no hotel onde pernoitamos. De Kanazawa pegamos um trem bala até Quioto e de Quioto um trem normal até Nara onde dormimos para no dia seguinte ir até o Monte Koya. Pense num passe (JRP) bem aproveitado..kkk
Para as pessoas normais…kkk o caminho até o Monte Koya inicia em Nara .
Então, pela manhã, saímos da Estação Central de Nara passamos pela estação de Takeda até Hashimotto, tudo incluso no Japan Rail Pass.
A partir daí o caminho é pela Nankai Line, que não está inclusa no passe. Você vai seguir de trem pelas montanhas até a estação Gokurakubashi, aonde o transporte passa a ser por um funicular até a estação Koya-san. Na chegada a Koya-san compramos a passagem para os vários ônibus que esperam para levar os passageiros até o Templo onde irão pernoitar. As paradas são numeradas, não é difícil de encontrar seu destino. Use o Google Maps e vá traçando o trajeto, ajuda um monte.
Chegamos depois das 14h no destino final. Nos hospedamos no templo Shojoshin-in que fica ao lado da entrada do famoso cemitério Okunoin.
Fomos direto ao templo para deixar as bagagens e fazer o check-in. Sabíamos da rigidez dos horários e não queríamos nos atrasar. Chegando no Templo um monge vem em disparada pedindo educadamente para que tirássemos os calçados, lá fora ainda, antes de subir as escadarias da entrada, pediu para guardar os calçados num compartimento próprio pra isso e que usássemos os chinelos à disposição. Dali nos levou até a recepção onde sentados em almofadas no chão e através de um inglês monossilábico foi nos explicando as regras e horários do local.
Apontando para o corredor, nos levou para conhecer as acomodações. O local da cerimônia matinal realizada toda manhã (antes do café ser servido); os quartos no segundo piso e o local onde o jantar é servido. Em cada lugar que entrávamos para conhecer era preciso estar descalço, e é claro que o Tiago esquecia toda vez, e levava, do monge, um puxão no braço e um indicador apontado para os chinelos. Apesar do puxão nada delicado um risinho acompanhava e caíamos na gargalhada pela recorrência da gafe.
Muito solícito e simpático, nos deixou no quarto e voltou para a recepção.
O quarto tipicamente japonês sem trancas nas portas, com futons ao invés de camas, uma mesa de chá com aquecimento para as pernas, uma TV antiga de tubo (que não faria falta se não estivesse ali, pois não entrava no clima do lugar…kkk), um aquecedor, um janelão que dava vista para o jardim e para o lago com carpas douradas e um barulhinho constante de água corrente e para finalizar, quimonos sobre os futons para serem usados enquanto estivéssemos no ryokan (hospedagem típica japonesa).
Deixamos a bagagem no quarto e fomos conhecer o cemitério mais famoso do Japão, o Oku-no-Em. Fica logo na saída do Templo e é bem interessante, com esculturas de vários tamanhos, árvores centenárias e por incrível que pareça é um lugar legal pra passear. À noite fica todo iluminado e tem passeios guiados para contar a história do lugar (e história tem de monte). Ali está o mausoléu de Kobo Daishi, fundador da seita budista Shingon. Acredita-se que Kobo Daishi não tenha morrido, mas que se encontre em estado permanente de meditação. O cemitério conta com mais de 200.000 túmulos e de acordo com a superstição da escola budista Shingon, não há mortos em Okunoin, mas apenas espíritos em “estado de espera.
Ainda no interior do cemitério é possível encontrar o chamado “Torodo Hall” (Salão das Lanternas). É o principal local de Okunoin destinado a veneração de Kobo Daishi, e foi construído em frente ao mausoléu. Dentro do salão existem mais de 10.000 lanternas, que foram doadas por adoradores e são mantidas eternamente acessas. Também é possível encontrar 50.000 estátuas minúsculas que foram doadas ao cemitério Okunoin por ocasião do 1150º aniversário da entrada de Kobo Daishi, em meditação, no ano de 1984.
Saindo do cemitério andamos um pouco pela vila e voltamos ao Templo a tempo do jantar.
A alimentação nos templos em geral é vegetariana seguindo a linha Budista sem qualquer tipo de carne ou peixe.
O esmero na preparação e na forma de servir fez dessa refeição a mais especial da viagem toda. Uma das refeições mais lindas e cheia de cuidados que já nos serviram. Muitos vegetais, tofu, arroz, chá verde, frutas. As fotos explicam melhor.
Um pouco antes do horário do jantar surgiu a dúvida: será que a gente veste os quimonos pra descer? E o medo de mais uma gafe? Kkk…chegamos a conclusão que não sabíamos quando passaríamos novamente por uma experiência como aquela, então, nos trajamos tipicamente calçamos nosso chinelinho e descemos cheios de razão…kkk…no térreo um grupo já aguardava. E ali vimos que os quimonos estão ali para serem usados mesmo, apesar de algumas pessoas estarem vestidas normalmente, a maioria abusou do modelito exótico. Cada grupo foi direcionado para uma salinha exclusiva onde um aquecedor mantinha o ambiente acolhedor, já que sentaríamos no chão, sobre um tatame de palha. Em seguida adentra um dos monges trazendo cada alimento servido separadamente naquelas louças japonesas que tive vontade de esconder no quimono e levar pra casa na sequencia…hahaha …tentou nos explicar o que era cada coisa e como deveria ser comido, é óbvio que não entendemos a metade, mas confesso que encheu os olhos tanto cuidado.
Voltamos ao quarto e antes que o horário do banho se esgotasse, descemos um por vez para o ritual. E te falo, cada coisa nesse templo é um evento. Pra tomar banho, você passa pelo primeiro ambiente onde depois de se despir e colocar a roupa em um cestinho passa por uma ducha, onde se deve lavar o corpo antes de passar para o segundo ambiente onde uma espécie de banheira rústica te aguarda com água termal corrente e super quente (Onsen é a designação para água termal no Japão e só é considerada assim a partir dos 25 graus). Apesar de ser super relaxante, não tem como ficar muito tempo pela temperatura da água. Encerrada essa etapa é só se secar, vestir seu quimono e voltar para o quarto.
Depois de mais essa experiência resolvemos dar mais uma espiada no cemitério já que já havia anoitecido. E te falo, apesar de ser iluminado, não tem como não ser um passeio sinistro. Cada barulho fazia com que os olhos se arregalassem…kkk tiramos algumas fotos e saímos, passando mais uma vez pelo centrinho que nessas alturas já estava deserto, já que se recolhem muito cedo.
Voltando ao quarto, nos sentamos na mesinha para aquecer os pés e preparamos um chazinho para dormir em paz nos futons esticados no chão sobre o tatame de palha.
Acordamos cedinho para não perder a cerimônia de orações matinal. Não espere alguém vir te chamar ou algum tipo de aviso. No horário previamente comunicado desça até a sala onde as orações acontecem. Lá nesse dia havia um único monge sentado de costas para os visitantes que se acomodavam numa sequencia de bancos encostados na parede no fundo do templo. E o monge sentado sobre os pés, ficou em torno de 40 incansáveis e ininterruptos minutos entoando orações que pareciam mantras agradáveis ao ouvido. Ao final da cerimônia pudemos conhecer o interior do templo que tem uma decoração em peças douradas, imagem de Buda no centro e muito veludo vermelho. Para finalizar, o monge sentou-se novamente numa das salas mais ao fundo e tocou um instrumento que acho que posso chamar de tambor por mais alguns minutos e um som super agradável invadiu novamente o templo.
Dali nos direcionamos para a o salão central onde nos direcionaram novamente para salas exclusivas para o café da manhã que foi servido pontualmente.
O café não foi muito diferente do jantar, com arroz legumes etc…servido de forma impecável como o jantar. Uma cultura totalmente diferente de uma riqueza de detalhes impossível de traduzir em palavras.
Com a alma leve, preparamos nossas coisas para seguir viagem…que experiência meus caros!
Pontos importantes:
O templo precisa ser reservado com muita antecedência, faça isso antes de sair de viagem. Como queríamos ficar nesse templo específico por ter boas recomendações, conseguimos reservar pelo site Japan Guest Houses, mas tem como reservar até pelo Booking.com. No site Associação de Turismo do Monte Koya você encontra mais informações sobre o local.
Deixe sua bagagem guardada em alguma estação. Leve somente o necessário para passar o tempo de estadia no Monte. É muito desgastante carregar muita bagagem para o Monte Koya, são muitos meios de transporte diferentes para chegar, muita subida e descida, não tem necessidade, leve o suficiente para passar uma ou quantas for ficar no local. Levamos toda nossa bagagem (2 malas médias e 2 mochilas) e sofremos muito carregando.
Informações do lugar:
Cerimônia matinal 6:00h de abril a setembro 6:30h de outubro a março
Café da manhã: 7:00h de abril a setembro e 7:30h de outubro a março
Banho: entre às 16h e 21h. Não é possível tomar banho de manhã.
Jantar: 17:30h
Valor da diária com duas refeições inclusas: 25,920 Yen cerca de R$ 800,00 na data da viagem.
Autor
thaisforcelini@gmail.com
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